quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Extraindo a fruta




















Coco bebê
Bebê coco
Tamanho de fruta
Para quem bebe pouco.
Minúscula pérola
Engana
Emana
Muita água de coco.

                    Bruno Brum Paiva

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fim de Festas

  

  Fim de Feira, fim de Bienal, fim de festas. Porto Alegre acordará mais triste nesta quarta-feira não de cinzas  e sim de ex-eventos. A Feira do Livro desse ano sentou-se sobre uma praça quase pronta, porém com ares novos de espaços mais amplos e desonerados de tanto entulho. Caminhamos mais livres, e mais livres ficamos para reencontrar amigos e folhear com mais vagar aqueles estimados e novos livros. A Praça da Alfândega voltou a ser da Feira.
   Entremeados à praça através do MARGS e Santander estava a 8ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, que também hoje se despediu da Capital. Com temáticas diversas e pertinentes, buscando fronteiras no que restou da globalização, a Bienal trouxe ao Cais do Porto e outros espaços muita discussão e beleza.
  As duas foram, as duas voltarão. E Porto Alegre renasce numa nova alfândega de um velho porto. Praça e cais, jacarandás e águas. Guapuruvus e Cisne Branco. Tudo é passeio, tudo é singrar.

                         Bruno Brum Paiva

sábado, 5 de novembro de 2011

Pessoas em pessoa

                             
                          Centro de Cultura, Ciência e Tecnologia - João Pessoa/PB
   
     
     Entrecruzares rios, estradas, aeroportos, estações, mares. Entrelaçar culturas, buscar pessoas. Essa viagem teve como eixo temático as pessoas - e por isso foi denominada Projeto Pessoas. A começar pela primeira parada, João Pessoa. No impulso aéreo até São Paulo sentamos ao lado de uma pessoa que hospedamos em nosso lar muito antes da existência do Mosteiro. No segundo trajeto, um animado grupo de pessoas que comumente viaja estava a nosso lado. E foi uma festa não muito diferente quando dias depois fomos lindeiros de mesa de um restaurante à beira-mar. Haveria um terceiro encontro caso não mudássemos repentinamente a rota, fato normal numa viagem constantemente reprogramável.  

     Cada passo tem sido um ode às pessoas. Crianças que repartem frutas, vendedores carismáticos que muito falam, um trem cheio cujo lento trafegar mais amizade provoca. Pessoas. Eis que viemos à busca, eis que surpreendidos estamos. Um grande momento foi sem dúvida  a tarde em Cabedelo, marco zero da construção da  Transamazônica. Além de conhecer o Forte Santa Catarina, uma bela construção de 1585 que tinha por finalidade defender a sede da Capitania da Paraíba, desmembrada de Itamaracá no ano anterior, pude ainda conversar com muitas pessoas e ainda retornar de trem até o centro histórico de João Pessoa, mais precisamente à margem do rio que deu origem à cidade que até a década de trinta do Século XX era também chamada Paraíba. Trem rústico, sacolejante, popular, rico de pessoas que nos retroalimentaram nesse grande processo convergente de culturas.

     Quanto Severino denominado Biu, quanta vida Bina denominada Severina. Estradas, atalhos, destinos e frangalhos. Calejadas mãos cortadas em cana, canaviais em fechadas matas, mares furiosos, pescadores desesperados, catadores de coco, vendedores de coco, rapaduras, tapiocas, arrumadinhos e caldinhos. Em tudo se vê a espalmada mão em sorrisos banguelas de sofrida e nem por isso triste vida. Pessoas que conversam sobre tudo que rodeia seu mundo, ensinam, trocam, doam, se doam. Raridade humana na contramão individualista que a nova ordem mundial instiga e carimba como passaporte da felicidade.

      O Projeto Pessoas foi cravejado de pessoas do começo ao fim. Pessoas que nos esperavam, que sorriam, socorriam e nos reencontrávamos em inusitadas situações. Chegamos em Recife e nos esperavam pessoas. Em Olinda, a palavra proferida a necessitados ouvidos nos fizeram mais pessoas. Encontros, acasos, prazeres e bem dizeres levaram e ao mesmo tempo costuraram o grande fio condutor racional que materializou a teimosa ideia de viajar com todos o sentidos voltados às pessoas.  Foi sem dúvida a mais humana e sentimental de todas as viagens, um projeto por e para as pessoas.


                                          Bruno Brum Paiva
                                       http://noslemosporai.blogspot.com

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A chave

 

Abre a porta

Tranca a roleta

Destrava o cadeado

Libera a cozinha

Encerra o condenado
Liberta o aquinhoado
        Abre a cancela
        Fecha a porteira
Giro horário
Sentido anti-horário
Senha eletrônica
Controle virtual

Domínio pessoal.

  

Bruno B. Paiva

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Nos Lemos na Casa de Cultura

Gostamos muito da experiência de trabalhar com esses maravilhosos grupos no último Jardinação.
E vamos celebrar o aniversário da Casa de Cultura, palco onde nasceu o Nos lemos, mesclando poesia.
Vamos?


                     Bruno Brum Paiva
                    http://noslemosporai.blogspot.com



quarta-feira, 14 de setembro de 2011

As Coisas

Se não usou até agora
Se não usou até agora
Se não usou até agora,

Por que guardou?

Vai usar amanhã
Vai usar amanhã
Vai usar amanhã?

Pô, joga fora.

Bruno Brum Paiva

sábado, 3 de setembro de 2011

Sonoridade Miscigenada



   A música brasileira parece ter redimido o cinema no que diz respeito à identidade nacional. Ao contrário da sétima arte, que ainda não encontrou o caminho para mostrar a cara da terra brasílis, a musicalidade há muito tempo erigiu a espinha  dorsal sonora da Pindorama. Com a típica influência multifacetada, colorida, ampla, profunda e complexa de todas as matizes que compõem o universo que se verbaliza na língua portuguesa, a música de nosso país tem encontrado representantes que a têm levado ao mais sublime nível de exportação e ensinamento por sua excelência. E, se em outros tempos tivemos   Noel Rosa, Carlos Gomes, Ernesto Nazareth, Villa-Lobos, Guerra Peixe, Pixinguinha e tantos outros, a contemporaneidade nos brindou com Chico Buarque, Elomar e o gigantesco Egberto Gismonti - talvez o maior e o mais universal músico brasileiro em atividade.

   Celebrando os trinta anos do Projeto Unimúsica, a UFRGS trouxe a Porto Alegre o sempre esperado Egberto Gismonti para um concerto inédito junto à Orquestra de Câmara Theatro São Pedro. Primeiro de setembro. Salão de atos  lotado por uma plateia um tanto ruidosa entre tossidos e celulares teimosos, essa praga que domina um vivente que abre mão de ouvir uma divindade do calibre de Gismonti por uma necessidade inutilmente cega de ser encontrado onde não deveria ter chegado.

   O concerto foi na íntegra com sua obra. Na primeira parte, duas peças executadas somente pela orquestra sob a batuta do simpático Borges Cunha. (Como a prenunciar a primavera, despidos de outras formalidades, os músicos estavam com roupas coloridas). Na sequência, antes da parte solo e depois com orquestra, uma explanação do  próprio Egberto sobre o processo criativo e toda sua influência a partir de múltiplos elementos que colorem e ao mesmo tempo costuram essa riqueza diversa que compõe e contrapõe a cultura brasileira. A exemplo de tantos estudiosos, Gismonti conhece e por isso traduz e nos devolve um pouco da brasilidade através da música. E a gente se emociona, chora e muito reflete porque acima de tudo se vê refletido no que ali está e se ouve. Tudo é pensado, até o silêncio.

    A alma está vacinada. Se não tive Mozart, Da Vinci ou Michelângelo para referenciar meu presente, a presença do meu tempo está revestida pela música de Egberto Gismonti.

      Bruno Brum Paiva
    


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

SUSPIRO NEGADO


                                       Ranchos da ETA, Viamão/RS - Ruínas

                                          Pinturas diretamente nas paredes




É a flor surtida
que a noite de verão devora,
amada sob o véu rubro
rejuvenesce o arco-íris.




Robusto cidadão
desespera ao sim não
que o não lhe diz.




No minúsculo do pólen
surge e suga
fatores produzidos na mãe,
a natureza.




Canto, pio
giro, assobio
assombração ou mito
socorreu na mata a agonia.




Descansa no repouso vegetativo,
às vezes,
uma vida que o sagrado
da mata virgem não deu tempo
ao ciúme.




Bruno Brum Paiva

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O tuco-tuco que cutuca












Bate martelo
Tuco cutuca
Afunda apodera
Domina
Dilacera
Atento roedor
De ouvidos precisos
Escava os caminhos
No compasso do coice
Pula, dança, corcoveia
Para, ouve, silencia
O tuco-tuco só não cutuca
Areia movediça
Recomeça, apressa, atiça.

                      Bruno Brum Paiva

quinta-feira, 7 de julho de 2011

E S P E L H O

Meu grande espelho
que vibras em minha face
é estranho ver-te,
vendo-me,
mas do contrário, inexistirias.
E a importância?
Nunca se sabe,
ao te olhar frente a frente,
se és tu ou eu
e quem é quem?
Mas olho fundo procurando enxergar,
vendo que vendo o brilho dos meus olhos
passo a não te ver mais.
O que refletias em passado,
agora permeabilizas em laser;
e o que meus olhos não brilham,
teu aço responde.


Bruno Brum Paiva

domingo, 26 de junho de 2011










Cascos soltos, olhos direcionados


Nesse dia em que o movimento que impulsionou Getúlio Vargas ao Palácio do Catete completa 80 anos, não poderia deixar de homenagear aquele ser que muito gaúcho carregou em seu lombo. Desde menino tem chamado minha atenção a maneira como os cavalos andam. A passo, a trote, a galope ou numa disputa em velocidade, aquela simétrica colocação das patas traseiras onde exatamente as dianteiras estavam, num lento ou rápido movimento sem nunca bater uma pata na outra. Sempre que andava a cavalo junto a outras pessoas ficava mirando fascinado aquela imponente dança dos cascos, num compasso marcado pela vontade de seguir em frente.
O cavalo tem sido um elemento quase mitológico no imaginário sulino dos últimos duzentos anos. Desde as guerras guaraníticas a carga de cavalaria tem sido usada com freqüência, perdendo um pouco a força nos anos trinta do século passado. Hoje, é mostrada apenas como um espetáculo romântico acerca da guerra.
Por sua trajetória prestada em batalhas, tendo o gaúcho este adorno guerreiro em sua cultura, o cavalo sempre tem gozado o mais elevado prestígio entre as pessoas. Para muitos, um símbolo de liberdade; para outros, elegância; outros, bravura. Enfim, dificilmente se encontrará um ser nessa terra que seja indiferente aos equinos.
Com o passar dos anos e a mecanização do campo, o crescente êxodo rural trouxe também para as cidades o velho companheiro dos pampas. Calçado com um sapato de ferro para amenizar a dureza das pedras, o que hoje vemos são ruas inundadas por esse guerreiro em outra batalha no cenário contemporâneo. Ainda observo o movimento sincrônico das patas, esse traço genético que lhe dá ares de fidalguia. Só não entendo por que aprisionaram seu olhar através das viseiras, porque o fazem olhar só onde pisa, só para onde desejam que sua carga seja endereçada. Com as patas soltas e o olhar preso, o cavalo que transita nas ruas está sempre cabisbaixo, como a se perguntar como foi parar numa agitada avenida, numa barulhenta sinaleira ou numa trepidante ponte, sem retorno.


Bruno Brum Paiva

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Renascer dos Esquifes



A Jubarte Empoeirada Beijou os Peixes Cheirosos.

Vento fraco e mar quase liso. A outra tentativa fora malograda pelo Atlântico em fúria numa manhã de sacolejos e batidas, vômitos e sustos, água escura e crespa numa total ausência de cetáceos. Nesta segunda tentativa o oceano é outro. Quarenta minutos de navegação será o suficiente para o comandante Peixoto anunciar a acrobacia das jubartes. Duas, três, cinco baleias pulando em torno do barco. O famoso borrifo, aquele esguicho de ar quente expelido às alturas, novos mergulhos e o lento desaparecer da cauda. Silêncio total. Todos arregalados com máquinas fotográficas e filmadoras em prontidão.
- Cadê as baleias, perguntei.
- Foram cheirar os peixes, respondeu o comandante. E antes que eu fizesse qualquer pergunta ele teceu uma longa explicação sobre o mergulho das jubartes à procura dos peixes não escamosos, pois esses seres marinhos exalam um cheiro, pelo medo da aproximação das gigantescas baleias, que as deixam calmas e com o senso de direção mais apurado, o que facilita tanto à reprodução quanto à procura de outros peixes, os escamosos, que são ricos em nutrientes – porém escassos naquela região entre os meses de agosto e dezembro. Caprichos da natureza. Fazendo um caminho inverso aos grandes mamíferos aquáticos, os pequenos peixes de espessa escama procuram águas mais frias para sua reprodução.
O barco gira lentamente em direção à costa. Comemos abacaxi, maçã, laranja e ouvimos algumas instruções caso outras baleias aparecessem. Jamais gritar, por exemplo, o que dificilmente é atendido quando aquele corpo de trinta toneladas é lançado à nossa frente num alegre bailar de nadadeiras e caudas. E outra coisa, falou Peixoto. Todos ficaram atentos. A baleia jubarte é a que possui a pele mais íngreme de todas as baleias, e por isso junta muita poeira. Coça muito, ela fica agitada e se bate, se joga de costas para eliminar essa poeira e com ela os fungos que muito incomodam. Depois mergulha suavemente à procura dos peixes cheirosos. Esse é o ciclo das jubartes.
A tripulação não contestou e tampouco confirmou as palavras do comandante. Sigo comendo peixes, independente da densidade das escamas.
Bruno Brum Paiva

domingo, 22 de maio de 2011

Sonho acordado

O crepúsculo
    abocanha
o sonho.

    Bruno Brum Paiva

terça-feira, 17 de maio de 2011

C I R C U I T O



Do universo 

nada despenca,

                  t r a f e g a. 



            Bruno Brum Paiva

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Fuga dos Camundongos

          


Desde pequeno Inácio ouvira música. Muita. Repetidas marchinhas carnavalescas povoaram seu imaginário de festas triunfais naqueles fevereiros. Quando menino, o carnaval era sempre no segundo mês do ano. Aquele infinito movimento giratório pelo salão o deixara em transe até a quarta de cinzas. O enterro dos ossos sepultava o carnaval até o ano seguinte. Metodicamente. E dessa maneira recomeçavam as rodas de chorinho na casa do avô todas as sextas, impreterivelmente, até o próximo fevereiro. Isso torturava Inácio, que outra saída não tinha além de ouvir o bandolim de Tirino acompanhado pelo pandeiro fora de cadência do avô. Seu João era boa gente, adotara o menino abandonado pela mãe, que fugira com um caminhoneiro, tratando-o como legítimo neto. Inácio não entendia o porquê daquelas noites barulhentas, das reuniões até quase o amanhecer, da gritaria, dos copos quebrados, dos poemas exaltados. Nunca vira uma briga, somente o canto sincopado imitando o timbre do bandolim. Por que se mexem tanto ao vibrarem  os instrumentos e por que sempre riem? Inácio acompanhava o ritmo, e o ritmo era uma fuga. O som do bandolim compassado no choro representara uma fuga de camundongos.

Bruno Brum Paiva

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ventar do Vestido da Moça




Venta venta vento leve
esvoaça sem sentido
voa livre voa solto
no florear do vestido.

Lago, Redenção, Rua da Praia
transita a livre moça
o vento a refrescar as pernas
as pernas compassadas na raia.

Desfila tranquila a rainha
mal sabe que
das rajadas ventanias
cintilam aos barbados passantes
o doce sabor das ironias.

Bruno Brum Paiva

domingo, 10 de abril de 2011

Agonia e Cama


   







Pesadas mãos
elos
anelos
pesadelos.


Bruno Brum Paiva

domingo, 3 de abril de 2011

O retorno

          Chuteiras calibradas, Marujo abastecido, tripulação de pandulho cheio. É hora de voltar. Na saída de Montevideo comemos a melhor empanada da viagem numa banquinha à beira da estrada. O nativo fazia a massa, o recheio, tudo na nossa frente. E deu-nos boas dicas sobre a estrada. O único equívoco ficou por conta da serra uruguaia... para nós não passou de coxilhas. Cada chão tem seu orgulho.
         136 litros de combustível permitiram rodar  2455 km assim distribuídos: quatro dias em Tavares, um em Rio Grande (não por acaso o dia do aniversário na cidade onde fui recebido há 42 anos), um em Punta del Diablo, dois em La Paloma, um em Piriápolis, quatro em Montevideo e o último dia ou a última pernoite em Jaguarão. Antes da chegada em Porto Alegre, no domingo à noite,  ainda tomamos um mate à beira da Lagoa dos Patos, já no outro lado, em Tapes. Havia combinado com um grande amigo dos históricos e acadêmicos tempos da UFRGS uma charla nas areias do Mar de Dentro. A surpresa ficou por conta da Lua cheia que nasceu ao anoitecer à nossa frente, no infinito do prateado lacustre, poucos minutos após o Sol deitar-se sereno no lado oposto.Talvez tenha sido a melhor maneira de dizer sem palavras o que sempre é dito a cada passo de uma trajetória:  o b r i g a d o ! ! !

Bruno Brum Paiva 







                                          Chegada em Treinta y Tres


                                          Entardecer no Uruguay





                                           O Sol vai... 



                                           ... A Lua chega




                                           Chegada em Rio Branco

 



Acima, a ponte sobre o rio Jaguarão vista do lado uruguaio. Abaixo, Jaguarão e o trecho até Porto Alegre. Destaque para o entardecer em Tapes, à beira da Lagoa dos Patos.



                                           Tapes/RS - Lagoa dos Patos





                                           Jaguarão/RS














                                            Tapes/RS