sábado, 5 de novembro de 2011

Pessoas em pessoa

                             
                          Centro de Cultura, Ciência e Tecnologia - João Pessoa/PB
   
     
     Entrecruzares rios, estradas, aeroportos, estações, mares. Entrelaçar culturas, buscar pessoas. Essa viagem teve como eixo temático as pessoas - e por isso foi denominada Projeto Pessoas. A começar pela primeira parada, João Pessoa. No impulso aéreo até São Paulo sentamos ao lado de uma pessoa que hospedamos em nosso lar muito antes da existência do Mosteiro. No segundo trajeto, um animado grupo de pessoas que comumente viaja estava a nosso lado. E foi uma festa não muito diferente quando dias depois fomos lindeiros de mesa de um restaurante à beira-mar. Haveria um terceiro encontro caso não mudássemos repentinamente a rota, fato normal numa viagem constantemente reprogramável.  

     Cada passo tem sido um ode às pessoas. Crianças que repartem frutas, vendedores carismáticos que muito falam, um trem cheio cujo lento trafegar mais amizade provoca. Pessoas. Eis que viemos à busca, eis que surpreendidos estamos. Um grande momento foi sem dúvida  a tarde em Cabedelo, marco zero da construção da  Transamazônica. Além de conhecer o Forte Santa Catarina, uma bela construção de 1585 que tinha por finalidade defender a sede da Capitania da Paraíba, desmembrada de Itamaracá no ano anterior, pude ainda conversar com muitas pessoas e ainda retornar de trem até o centro histórico de João Pessoa, mais precisamente à margem do rio que deu origem à cidade que até a década de trinta do Século XX era também chamada Paraíba. Trem rústico, sacolejante, popular, rico de pessoas que nos retroalimentaram nesse grande processo convergente de culturas.

     Quanto Severino denominado Biu, quanta vida Bina denominada Severina. Estradas, atalhos, destinos e frangalhos. Calejadas mãos cortadas em cana, canaviais em fechadas matas, mares furiosos, pescadores desesperados, catadores de coco, vendedores de coco, rapaduras, tapiocas, arrumadinhos e caldinhos. Em tudo se vê a espalmada mão em sorrisos banguelas de sofrida e nem por isso triste vida. Pessoas que conversam sobre tudo que rodeia seu mundo, ensinam, trocam, doam, se doam. Raridade humana na contramão individualista que a nova ordem mundial instiga e carimba como passaporte da felicidade.

      O Projeto Pessoas foi cravejado de pessoas do começo ao fim. Pessoas que nos esperavam, que sorriam, socorriam e nos reencontrávamos em inusitadas situações. Chegamos em Recife e nos esperavam pessoas. Em Olinda, a palavra proferida a necessitados ouvidos nos fizeram mais pessoas. Encontros, acasos, prazeres e bem dizeres levaram e ao mesmo tempo costuraram o grande fio condutor racional que materializou a teimosa ideia de viajar com todos o sentidos voltados às pessoas.  Foi sem dúvida a mais humana e sentimental de todas as viagens, um projeto por e para as pessoas.


                                          Bruno Brum Paiva
                                       http://noslemosporai.blogspot.com

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