sábado, 29 de junho de 2013

É Mais Além


  Essa é uma música para ouvir com o vagar do mastigar da existência que não dá tempo à ruminação porque só vai e não vem.

http://www.youtube.com/watch?v=Ba8iY5wFlMs


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Igarapés, Igapós e s. Ambrósio










     Estávamos no meio do mato. Da mata, pois o Amazônia fêmeo puxa para si a grandeza da selva. Não imaginava que após o fenômeno do encontro das águas, onde os rios Negro e Solimões correm paralelamente grudados e não se misturam, outras surpresas se apresentariam. A magia da vitória-régia e seu encantador florescimento; uma comunidade que vive sobre casas flutuantes, ou seja, estão assentadas em enormes troncos amarrados em árvores à beira do rio, o qual sobe junto às casas sem invadi-las. Igrejas, escolas, bares, tudo flutua. O quintal é o rio. Caminha-se dentro de casa ou no barco, sempre flutuando.
     Nosso comandante ancorou o barco na outra margem, próximo ao restaurante onde mais tarde almoçaríamos. Passamos para uma pequena canoa, a partir daí navegaríamos pelos igarapés, que no inverno se transformam em igapós.  Mesmo em trechos com menos de dez metros de largura, a profundidade nunca é inferior a quatro metros. Encantado por aquele serpentear mata a dentro, coloco a mão n’água e vou brincando. Pouco depois fico sabendo que justo ali está minado de piranhas. A mata vai se fechando e lá vamos nós, igarapeando. Olho para à direita de nossa canoa  e vejo um velhinho simpático, provavelmente morador das redondezas, remando com certa dificuldade seu pequeno bote. Nosso veículo facilmente o ultrapassa e ele fica remando pra lá e pra cá com ar de cansaço. De onde vem essa pessoa, para onde vai, onde mora, o que está fazendo ali, sozinho, àquela hora? Fiquei pensando, pensando, como será a vida dessa criatura? E ele ficando cada vez mais distante. Não bati uma foto sequer, nunca mais iria vê-lo – inocentemente pensei.
    Na outra curva do igarapé, a menos de cem metros, paramos. O guia falou sobre a importância daquelas gigantescas árvores que nos cercavam, das frutas amazônicas, da piracema e da economia dos que ali vivem. Enfim, uma aula muito bem contextualizada. Aula essa interrompida para cumprimentar o senhor  que ficara para trás e que agora descansava das sôfregas remadas junto a uma árvore bem próximo a nós, porém na outra margem. “Tudo bem, seu Ambrósio?” Fiquei admirado de nosso guia conhecer aquele velhinho que reaparecera no cenário. “S. Ambrósio vende o melhor bombom de cupuaçu e castanha aqui da região. Quem quiser é só pedir; chega mais, s. Ambrósio”. E foi uma chuva de pedidos, não teve quem não comprasse. Ele não estava ali por acaso. Naquele dia, e provavelmente em muitos outros, s. Ambrósio forrou a surrada calça, já que  na Amazônia não se usa  guaiaca. 

               Igarapé -  Canal estreito e navegável. Riacho que nasce na mata e desemboca num rio.  
               Igapó -   Trecho de floresta inundado.



                                Bruno Brum Paiva

segunda-feira, 10 de junho de 2013

SERPENTE

          

Num abismo emudecido por luzes
estaciona o ansioso menino,
despidas ruas correm paralelas ao verde
salgado no crepúsculo montanhês.
  

Reviravoltas surgidas no pensamento  ardente
correlacionam os fatos,
e os chatos insistem com força
que implode o vulcão.
  

Sol. Este inquieto astro mexe
todos os residentes sob seu teto.
Nuvens passam:  chuva, vento,
granizo ou geada; ele, fica.
  

A serpente enlaçada por  desejos
despeja todo seu amor em raiva,
mergulhando seu afeto no abismo,
salpicando o mártir em cores.
   


                   Bruno Brum Paiva