segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Renascer dos Esquifes



A Jubarte Empoeirada Beijou os Peixes Cheirosos.

Vento fraco e mar quase liso. A outra tentativa fora malograda pelo Atlântico em fúria numa manhã de sacolejos e batidas, vômitos e sustos, água escura e crespa numa total ausência de cetáceos. Nesta segunda tentativa o oceano é outro. Quarenta minutos de navegação será o suficiente para o comandante Peixoto anunciar a acrobacia das jubartes. Duas, três, cinco baleias pulando em torno do barco. O famoso borrifo, aquele esguicho de ar quente expelido às alturas, novos mergulhos e o lento desaparecer da cauda. Silêncio total. Todos arregalados com máquinas fotográficas e filmadoras em prontidão.
- Cadê as baleias, perguntei.
- Foram cheirar os peixes, respondeu o comandante. E antes que eu fizesse qualquer pergunta ele teceu uma longa explicação sobre o mergulho das jubartes à procura dos peixes não escamosos, pois esses seres marinhos exalam um cheiro, pelo medo da aproximação das gigantescas baleias, que as deixam calmas e com o senso de direção mais apurado, o que facilita tanto à reprodução quanto à procura de outros peixes, os escamosos, que são ricos em nutrientes – porém escassos naquela região entre os meses de agosto e dezembro. Caprichos da natureza. Fazendo um caminho inverso aos grandes mamíferos aquáticos, os pequenos peixes de espessa escama procuram águas mais frias para sua reprodução.
O barco gira lentamente em direção à costa. Comemos abacaxi, maçã, laranja e ouvimos algumas instruções caso outras baleias aparecessem. Jamais gritar, por exemplo, o que dificilmente é atendido quando aquele corpo de trinta toneladas é lançado à nossa frente num alegre bailar de nadadeiras e caudas. E outra coisa, falou Peixoto. Todos ficaram atentos. A baleia jubarte é a que possui a pele mais íngreme de todas as baleias, e por isso junta muita poeira. Coça muito, ela fica agitada e se bate, se joga de costas para eliminar essa poeira e com ela os fungos que muito incomodam. Depois mergulha suavemente à procura dos peixes cheirosos. Esse é o ciclo das jubartes.
A tripulação não contestou e tampouco confirmou as palavras do comandante. Sigo comendo peixes, independente da densidade das escamas.
Bruno Brum Paiva

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