terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013



Um ano para não esquecer de lembrar o que não pode ser esquecido. Contudo, há muito o que comemorar, tanto na forma quanto no conteúdo.





quinta-feira, 26 de dezembro de 2013


Não por acaso dividimos por uma semana os poucos metros quadrados de um quarto de hospital com uma das pessoas de alma mais límpida que conheci: Ariadna seu nome, quase uma tradução da luz que emana de olhos verdes e ausência de cabelos, ausência essa que nos seguintes dias topou com nossa realidade.



domingo, 22 de dezembro de 2013

   
   A doença é uma escola da solidariedade.



sexta-feira, 20 de dezembro de 2013



  Há pessoas maravilhosas no meio do caminho.




quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Aníver ingrato



  E a pelagem começou a ficar rara, uma pluma. Não queria essa lembrança nos 70 anos do Keith Richards. Meio de lado e com poucas palavras, vai lá meu abraço.










                                    
  Bruno Brum Paiva



domingo, 15 de dezembro de 2013

  
A insana lógica do tempo cronológico.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013


O mais difícil é disfarçar o sofrimento.



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Não Sei



Que gosto tem a lágrima?


domingo, 1 de dezembro de 2013

Una Ciudad Hermana

                          
                                           Ponte sobre o rio Parana - Rosario/Vitoria


Al final del siglo XX conocí una ciudad que me encantó. Hablo de Rosario, ubicada en la llamada pampa húmeda y bañada por el río Paraná.


En Rosario hay muchos cafes y panaderías. La harina argentina es uma especialidad reconocida por todos. Tomar um cafe degustando un pan o simplemente una galletita el algo muy precioso y distinto.
La última vez que estuve en Rosario conocí también la ciudad de Victoria. Ahora fue construida un puente enorme sobre el río Paraná, y Victoria se quedó muy cerca de Rosario. Comemos un pescado inolvidable y volvimos alimentados de cuerpo y alma.
Rosario fue declarada ciudad hermana de Porto Alegre. Me siento hijo de los dos, aunque haya nacido lejos de Porto alegre y mucho más de Rosario, pero camino libremente por las calles de allá y acá con el pensamiento sin fronteras.

                                 Bruno Brum Paiva

sábado, 2 de novembro de 2013

F I N A D O S














Estou no meio de indefinições
definidas
de culto aos mortos
falando
adorando
orando
ou florescendo túmulos.
A eternidade e o silêncio
são interrogações
e o culto assiste,
passivo,
as mutações da natureza.

Bruno Brum Paiva

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sineta Opaca



   Hoje inicia a 59ª Feira do Livro de Porto Alegre.
   Silenciosa.
   Faltará sempre a sineta do Xerife La Porta.
   Bênção!


             Bruno Brum Paiva

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Abertas Gavetas

    
    No Brasil  inteiro, eleições - apogeu do exercício democrático através do sufrágio universal. Para o vivente em questão que por ora remete essas linhas, uma data histórica: hoje faz vinte e um anos que tive minha primeira publicação impressa. Mesmo de forma coletiva, em meio àquela salada de frutas de novos escritores, lá estavam seis páginas em que reinava absoluto com embrionários poemas. Talvez hoje não escreveria dessa forma, mas com certeza não reescreveria e tampouco renegaria esse registro  que os sentidos e sentimentos da vida por ali deixaram marcados.


    NOITE

Noite
Negro lençol que interroga o amanhã
teus filhos saem aos bares,
em ti,
pelas ruas e campos.
Noite
tens os mistérios guardados,
defuntos atentos,
o tempero da brisa
e seus aliados.
Romântica
vitoriosa ou derrotada
a natureza humana busca na noite
o todo
o momento reflexivo
ativo ou passivo.
Noite
tens o aroma de liberdade
traduzido no estrelar,
oculto no nublado
ou satisfeito na existência.

                             Bruno Brum Paiva

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Terra à Vista


 
  Iemanjá levou nosso Caesalpinia echinata para a beira do rio, enquanto pescadores conduziam a imagem pelas águas do Guaíba paralelamente à multidão que transitava com vagar e fé pela Castelo Branco até a Igreja de Navegantes. Dois de Fevereiro era festa da padroeira de Porto Alegre, momento singular onde múltiplas forças se convergem num ato de muita densidade humana.

  Dia especial para nosso Caesalpinia mudar de casa. Após ser ruminado pela burocracia e até rejeitado pelo Jardim Botânico e pela SEMA, sob o dogma arboreofóbico de que planta não guasca não habita fecundas praças de nossos pampeanos matagais, o pau-brasil já quase árvore que no Mosteiro reinava soberbo, finalmente encontra uma terra na beira do rio em dia de Iemanjá.

    Aceito com carinho e regado em sua chegada, Caesalpinia já foi apresentado aos ipês, tipuanas, maricás, jacarandás, quero-queros e pica-paus seus vizinhos. Poderá estufar o peito ramificado, ampliar a gema apical e encravar suas raízes até que a idade adulta o permita chegar aos vinte metros. Entroncar-se, florescer e oferecer a sombra fresca que tempera as conversas mateadas. É muito bom saber que há exatos oito meses Iemanjá levou o pau-brasil para a beira do rio, no Beira-Rio.



                                    Bruno Brum Paiva









segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Simpatia de Benzedeira

               



        











            - Acenda as velas!
      O estrondo chega seco, quase junto ao piscar do relâmpago. Marina está assustada. Depois daquele, cada iminência de um temporal alimenta o trauma. "Tudo de novo, não"! Os olhos arregalados miram a cruz de sal sobre o prato branco, bendição repetida por sua mãe a cada prenúncio de tempo instável. A voz de dona Aurora sai desengasgada: “minha filha, vai passar. Acenda as velas, leia a oração e deite”.
       Marina não teve tempo de seguir o materno conselho.


                                     Bruno Brum Paiva        


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Fragrância













De tanto procurar
flores
encontrei
a primavera
  
      Bruno Brum Paiva

sexta-feira, 20 de setembro de 2013
















As Corujas
de Tavares


Há objetos em que o uso ultrapassa o significado primário do próprio nome. A coruja a que me refiro, quem diria, não é a ave símbolo da inteligência e sim um acessório para o trabalho em dias de sol. Naquela cidade litorânea, até fins da década de setenta, apresentar-se à sociedade exigia algumas regras comportamentais que bem justificava a importância de ser visto como um cartão de visitas para o seu futuro social. A moça, entre outras coisas, não poderia estar com a pele escurecida pelo sol, podendo tal feito culminar com a evaporação precoce de um eventual casamento em alinhavo, pois o trabalhar na roça era estigma de escravidão. Como uma donzela que almeja lograr um belo par, dizendo-se bom partido, aparece enegrecida pelo sol da labuta?
Surge então a coruja, uma primitiva armação de arame coberta com pano originalmente vindo como saco de açúcar. A armação, uma meia-lua que, com o sol de frente, a pessoa o avançava, fazendo então uma longa aba que protegia totalmente o rosto. Abaixo do queixo ficava preso com uma fita um delicado barbicacho. O mais incrível era ver aquela perfilhação de meninas perpendiculares aos canteiros de cebola, feijão ou milho, com suas corujas alvejadas e ora soltas à frente, ora suspensas à testa, quando então o sol já queria adormecer no horizonte. Entre o alaranjado crepuscular e o pipocar das estrelas muitas viagens de semeio, muda ou capina das respectivas culturas de época eram feitas até que alguém –sempre há um líder entre os trabalhadores- dava o sinal de que o expediente chegara ao fim. Esse ato, em se tratando de um sábado, era apenas um hiato entre a jornada de trabalho e o baile. É claro que em plena lavoura, independente do calor, mangas compridas seguidas por luvas colaboravam na performance visando manter as casadoiras lânguidas e formosas. Pó de arroz, clara de ovos, óleo de mocotó e babosa completavam os ingredientes para deixar pele e cabelos aconchegantes e como boas iscas para o enlace.
Com o passar do tempo e a mudança dos hábitos, a coruja vai lentamente cedendo espaço aos chapéus de palha e bonés. Hoje, a proteção dá-se por uma questão de saúde e não estética, dada a perfuração da camada de ozônio e a sensação térmica sufocante. Por ironia do destino e consequentes modificações ditadas pelo mercado da moda, o atual branquela é aquele que trabalha, e numa sociedade de profundos traços e ranços escravocratas o desprezo pelo trabalho faz com que as netas das que trabalhavam sob corujas e luvas, não estando suficientemente bronzeadas pelo que significa praia e jamais trabalho, busquem então um complemento até artificial para que a pele não fique branca, sob pena, do outro lado de uma mesma moeda, de se verem rejeitadas por não acompanharem o que temos como valor vigente de pele.
Atualmente, nossas corujas repousam na memória à espera de um reconhecimento quem sabe em forma de museu.
Em tempo: essas corujas guardiãs residem na praia do Mar Grosso, em Laguna/SC. Fotografia registrada na última passagem pela terra de Anita, março de 2008.


Bruno Brum Paiva

domingo, 8 de setembro de 2013

O Grito*





      Naquela noite tudo parecia estranho, nenhum caminho levava ao sossego. A lua cheia, surgida no crepúsculo, de repente viu-se tragada pelas nuvens da chuva. Chuva é sinônimo de sapos, e o coaxar alegre dos anfíbios povoa musicalmente as trevas no Vale dos Monges, onde estamos. Raquel odeia sapos. 

      A noite avança rumo a segunda-feira. Todos foram embora, todos os que se propuseram a passar o feriadão de páscoa naquela casa. E nós, ficamos. Por que a coragem, por que a insistência de mais um dia? Aquela noite pôs em xeque o silêncio das anteriores.

       A terceira roda do mate inicia o giro quando Raquel dá um pulo da cadeira. A aranha armadeira fez escala em seu ombro antes de pousar no chão, sisuda, encarando-nos com seus ferrões a postos. Gelamos. Os princípios  ecologistas foram abafados pelo instinto de sobrevivência, e Protásio primeiro a trucidou para depois  perguntar se concordávamos com a subtração do aracnídeo. Não imaginávamos, então, aquela exceção à vida  estendida outras cinco vezes, somatizando um terror descomunal nos momentos seguintes. Em seguida, Protásio abre a janela e só não tem seu  rosto como alvo certeiro porque a rapidez age em forma de precaução. O animal morre pelejando contra a vassoura que o esmaga, da mesma forma outras duas, que cruzam do quarto para a sala. Vou ao banheiro, acendo a luz e no espelho está outra, mirando-me no reflexo. Quebrar o vidro? Minutos depois, a vassoura assassina disseca seu movimento perpendicular à parede, dando cabo a mais uma guerreira dessa noite sem fim.

        A chuva passa e o mate é retomado, temperado pelas mais escabrosas estórias. Hora de dormir, camas no chão, tudo é movimento. Como nas outras noites, Protásio dorme no sótão. O sono vem, meio sestroso, tomando embalo na tensa madrugada. Seu rompimento é brusco, acionando os sentidos de alerta após o berro estremecedor de Protásio. O alvorecer é marcado pelo grito de exorção, fuga, pavor, liberdade ou quem sabe uma sonora saudação junto aos pássaros do outono. Até hoje nunca soubemos.  

                                      Bruno B. Paiva

*Publicado no livro 101 Que Contam, Editora Nova Prova, 2004. Org. Charles Kiefer.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Lírico no Árido








     
   Vinícius de Moraes foi tão bom crítico quanto poeta, o que é raro. Na apresentação do primeiro disco de Elomar Figueira ele fala do disparate que é a sílaba mar em seu nome, pois tudo nele é seco como o sertão à espera de nuvens.

    Volta e meia, um pouco por provocações sei lá de qual quilate do universo e outras por mero acaso do destino, caem raridades em minhas mãos. Com o Mestre não poderia ser diferente. Ganhei uma fita cassete sofregamente gravada por um amigo. Sempre levei em consideração o que musicalmente até então me apresentara, mas dessa vez achei que o rapaz estava maluco. Que música era aquela, que esquisitice sonora rodava naquele engasgado toca-fitas? Ouvi um pouco e não dei muita bola, apesar de não descartar uma posterior audição. “Quem sabe num outro momento”. E esse veio quando morava na outra ponta do mapa. Caminhava distraído pelas ruas de Recife, falando sozinho e olhando para cima em busca talvez de alguma resposta às perguntas que não fizera, quando vejo um cartaz esverdeado próximo ao Teatro do Parque, na rua do Hospício. Aquele senhor barbudo, olhar firme para o horizonte seco do sertão. Ele parecia sair do cartaz através do convite nada convencional: Elomar no Teatro do Parque. Quem pensa, vai.


    Veio um filme na minha cabeça, o da fita cassete abafada com aquela voz grave e aquele violão definidor. É o cara, pensei. Era. A partir dali comecei a prestar atenção e juntar os cacos de uma monumental obra que apenas aguarda um  patrocínio  para ter simplesmente tudo editado, partiturado e exposto ao grande público através da Fundação Casa dos Carneiros, nome de uma de suas fazendas no interior de Vitória da Conquista, BA. O arquiteto, fazendeiro, compositor, violonista, cantor, escritor e desenhista Elomar transita livremente no campo lírico de raízes áridas. Suas óperas falam de retirantes, amores impossíveis, cavaleiros indomáveis, donzelas perdidas, dores, traições, religiosidade de um povo no extremo sofrimento em busca de um melhor chão que não queime tanto os pés nem as plantas que desse chão raramente germinam. Tudo num universo medieval ambientado no Estado do Sertão. O Sertão é também um estado de espírito, e por isso tanto o cancioneiro popular quanto o erudito é apresentado na linguagem dialetal sertaneza.


    E, enquanto o mar não vira sertão, o sertão vira ópera.



                       Bruno Brum Paiva


                                                


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Projeto Catingueira - a consumação


    A faísca do projeto está no Auto da Catingueira  e todo universo sinfônico e poético produzido por Elomar justamente no seu ambiente mater: o sertão dos mandacarus, das cabras, dos famosos bodes, dos caboclos, malungos, vaqueiros, violas, cravos renascentistas, os cavaleiros e suas medievais donzelas. De onde veio tudo isso, onde o Menestrel sorveu a ideia transformada em imagens, palavras, música, ópera? Quando vi essa reportagem, não tive dúvida: vou conhecer a fonte. E fomos.  

   Fechamos aqui o ciclo de imagens dessa curta, densa e colorida viagem que começou em Ouro Preto, passou por Belo Horizonte e culminou em Vitória da Conquista, uma verdadeira conquista na trajetória de Nosotros. Projeto Catingueira consumado, vamos ao próximo passo.

    Em respeito ao pedido do próprio Elomar não tiramos nenhuma chapa, assim chamadas as fotos pessoais. Segundo ele, papel a traça come; imagem, no coração fica


                                                        Bruno Brum Paiva

























segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Projeto Catingueira - parte 2



   Belo Horizonte, merecedora Capital de um grande Estado. Um extenso dia entre a Praça Liberdade, Pampulha, Mercado Central e seu universo aromático, Mineirão, Mineirinho e maneiras comidas mineiras. Mas o que realmente impressionou foi o Memorial Minas Gerais Vale, uma gigantesca mostra distribuída num imponente prédio de três andares. Do rupestre ao ontem, do pictórico à música contemporânea enraizada numa dinâmica que constantemente é reciclada. Para conhecer, para voltar.
                                                                                                        























                                                  Bruno Brum Paiva

sábado, 10 de agosto de 2013

Projeto Catingueira - parte 1


    O Projeto Catingueira nasceu por acaso, no repente. Estávamos em busca de um local diferente para essas férias, de preferência uma fuga do frio. E por isso declinamos do Uruguai. A partir de uma simples consulta sobre a possibilidade de algum evento na Casa dos Carneiros, em Vitória da Conquista, reconfiguramos tudo e giramos a seta para o Sudeste. Ouro Preto estava na rota há muito tempo, e a exploração pelo interior de Minas só não foi maior porque a cereja do bolo estava mais ao norte, mais especificamente no sertão da Bahia. Mas enquanto o dia não chegava, saboreamos com vagar passo a passo daquelas infinitas ladeiras da Vila Rica. Igrejas, Museu da Inconfidência, inconfidentes ilustres, Museu do Oratório, Casa do Conto, obras do Aleijadinho por toda parte, Teatro Municipal - inaugurado em 1770. Ouro, muito vestígio da era que nomeou o ciclo. Literatura, História, estórias. Ouro Preto é magnífico.


                                                          Bruno Brum Paiva