quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Fuga dos Camundongos

          


Desde pequeno Inácio ouvira música. Muita. Repetidas marchinhas carnavalescas povoaram seu imaginário de festas triunfais naqueles fevereiros. Quando menino, o carnaval era sempre no segundo mês do ano. Aquele infinito movimento giratório pelo salão o deixara em transe até a quarta de cinzas. O enterro dos ossos sepultava o carnaval até o ano seguinte. Metodicamente. E dessa maneira recomeçavam as rodas de chorinho na casa do avô todas as sextas, impreterivelmente, até o próximo fevereiro. Isso torturava Inácio, que outra saída não tinha além de ouvir o bandolim de Tirino acompanhado pelo pandeiro fora de cadência do avô. Seu João era boa gente, adotara o menino abandonado pela mãe, que fugira com um caminhoneiro, tratando-o como legítimo neto. Inácio não entendia o porquê daquelas noites barulhentas, das reuniões até quase o amanhecer, da gritaria, dos copos quebrados, dos poemas exaltados. Nunca vira uma briga, somente o canto sincopado imitando o timbre do bandolim. Por que se mexem tanto ao vibrarem  os instrumentos e por que sempre riem? Inácio acompanhava o ritmo, e o ritmo era uma fuga. O som do bandolim compassado no choro representara uma fuga de camundongos.

Bruno Brum Paiva

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ventar do Vestido da Moça




Venta venta vento leve
esvoaça sem sentido
voa livre voa solto
no florear do vestido.

Lago, Redenção, Rua da Praia
transita a livre moça
o vento a refrescar as pernas
as pernas compassadas na raia.

Desfila tranquila a rainha
mal sabe que
das rajadas ventanias
cintilam aos barbados passantes
o doce sabor das ironias.

Bruno Brum Paiva

domingo, 10 de abril de 2011

Agonia e Cama


   







Pesadas mãos
elos
anelos
pesadelos.


Bruno Brum Paiva

domingo, 3 de abril de 2011

O retorno

          Chuteiras calibradas, Marujo abastecido, tripulação de pandulho cheio. É hora de voltar. Na saída de Montevideo comemos a melhor empanada da viagem numa banquinha à beira da estrada. O nativo fazia a massa, o recheio, tudo na nossa frente. E deu-nos boas dicas sobre a estrada. O único equívoco ficou por conta da serra uruguaia... para nós não passou de coxilhas. Cada chão tem seu orgulho.
         136 litros de combustível permitiram rodar  2455 km assim distribuídos: quatro dias em Tavares, um em Rio Grande (não por acaso o dia do aniversário na cidade onde fui recebido há 42 anos), um em Punta del Diablo, dois em La Paloma, um em Piriápolis, quatro em Montevideo e o último dia ou a última pernoite em Jaguarão. Antes da chegada em Porto Alegre, no domingo à noite,  ainda tomamos um mate à beira da Lagoa dos Patos, já no outro lado, em Tapes. Havia combinado com um grande amigo dos históricos e acadêmicos tempos da UFRGS uma charla nas areias do Mar de Dentro. A surpresa ficou por conta da Lua cheia que nasceu ao anoitecer à nossa frente, no infinito do prateado lacustre, poucos minutos após o Sol deitar-se sereno no lado oposto.Talvez tenha sido a melhor maneira de dizer sem palavras o que sempre é dito a cada passo de uma trajetória:  o b r i g a d o ! ! !

Bruno Brum Paiva 







                                          Chegada em Treinta y Tres


                                          Entardecer no Uruguay





                                           O Sol vai... 



                                           ... A Lua chega




                                           Chegada em Rio Branco

 



Acima, a ponte sobre o rio Jaguarão vista do lado uruguaio. Abaixo, Jaguarão e o trecho até Porto Alegre. Destaque para o entardecer em Tapes, à beira da Lagoa dos Patos.



                                           Tapes/RS - Lagoa dos Patos





                                           Jaguarão/RS














                                            Tapes/RS









       

sábado, 2 de abril de 2011

Proyecto Murga, Uruguay. Parte 5

   Montevideo. A ensolarada tarde de terça, 15  de março, é o pano de fundo para a tomada da capital cisplatina. Hostel Montevideo, Ciudad Vieja, nossa moradia pelos próximos quatro dias. Poucas horas depois, a decisão: não vamos a Colônia do Sacramento, afinal de contas a tripulação começara a dar sinais de cansaço. E Montevideo prometia. Promessa cumprida, o retorno começa no sábado, 19, via Treinta y Tres até Rio Branco, travessia que dar-se-á até Jaguarão sob o reflexo da Lua cheia.

Bruno Brum Paiva
































                                          Pausa para o mate