sábado, 26 de setembro de 2009

Cap. 3 - Dois olhares sobre Raimundo

Facão laminado na mão ligeira. Alisa o cabo, limpa o coqueiral. A mata inteira é do Raimundo, que mede cada coqueiro com o olhar. Sabe com precisão quantos abraços necessita até alcançar o apinhado cacho. "Ainda não nasceu coqueiro que eu não tenha conseguido subir", repete como se fosse um mantra.
Pergunto se aquele coco é para vender. Ele responde que não, que apenas limpa o coqueiral para não cair seus frutos em cima das casas com o vendaval dessa época do ano. E os cocos? Eles ficam aí para quem quiser, pois esse coco grande ninguém compra. Coco do chão é do mundo, não tem dono não.

x-x-x-x-x-x-x-x

Raimundo

É do coco, é do mundo

facão laminado na mão ligeira

limpa o coqueiral, alisa o cabo

a mata inteira é do Raimundo.

Raimundo mede o coqueiro com o olhar

sabe quantas braçadas necessita

para alcançar o apinhado cacho.

Tá por nascer coqueiro que eu não suba.

Nativo compra não o coco que bebe

só bebe o que encontra no chão

coco do chão é do mundo, tem dono não

fica solto para quem quiser levar

o que tá no chão é do mundo.

Bruno Brum Paiva


Um comentário:

Nina disse...

Isso é do artista.....ou o artista é isso: escrever o outro, o diferente de forma verossímil.