Estávamos no meio do mato. Da mata, pois o
Amazônia fêmeo puxa para si a grandeza da selva. Não imaginava que após o
fenômeno do encontro das águas, onde os rios Negro e Solimões correm
paralelamente grudados e não se misturam, outras surpresas se apresentariam. A
magia da vitória-régia e seu encantador florescimento; uma comunidade que vive
sobre casas flutuantes, ou seja, estão assentadas em enormes troncos amarrados
em árvores à beira do rio, o qual sobe junto às casas sem invadi-las. Igrejas,
escolas, bares, tudo flutua. O quintal é o rio. Caminha-se dentro de casa ou no
barco, sempre flutuando.
Nosso comandante ancorou o barco na outra
margem, próximo ao restaurante onde mais tarde almoçaríamos. Passamos para uma
pequena canoa, a partir daí navegaríamos pelos igarapés, que no inverno se
transformam em igapós. Mesmo em trechos
com menos de dez metros de largura, a profundidade nunca é inferior a quatro
metros. Encantado por aquele serpentear mata a dentro, coloco a mão n’água e
vou brincando. Pouco depois fico sabendo que justo ali está minado de piranhas.
A mata vai se fechando e lá vamos nós, igarapeando.
Olho para à direita de nossa canoa e
vejo um velhinho simpático, provavelmente morador das redondezas, remando com
certa dificuldade seu pequeno bote. Nosso veículo facilmente o ultrapassa e ele
fica remando pra lá e pra cá com ar de cansaço. De onde vem essa pessoa, para
onde vai, onde mora, o que está fazendo ali, sozinho, àquela hora? Fiquei
pensando, pensando, como será a vida dessa criatura? E ele ficando cada vez
mais distante. Não bati uma foto sequer, nunca mais iria vê-lo – inocentemente
pensei.
Na outra curva do igarapé, a menos de cem
metros, paramos. O guia falou sobre a importância daquelas gigantescas árvores
que nos cercavam, das frutas amazônicas, da piracema e da economia dos que ali
vivem. Enfim, uma aula muito bem contextualizada. Aula essa interrompida para
cumprimentar o senhor que ficara para
trás e que agora descansava das sôfregas remadas junto a uma árvore bem próximo
a nós, porém na outra margem. “Tudo bem, seu Ambrósio?” Fiquei admirado de
nosso guia conhecer aquele velhinho que reaparecera no cenário. “S. Ambrósio
vende o melhor bombom de cupuaçu e castanha aqui da região. Quem quiser é só
pedir; chega mais, s. Ambrósio”. E foi uma chuva de pedidos, não teve quem não
comprasse. Ele não estava ali por acaso. Naquele dia, e provavelmente em muitos
outros, s. Ambrósio forrou a surrada
calça, já que na Amazônia não se
usa guaiaca.
Igarapé -
Canal estreito e navegável. Riacho que nasce na mata e desemboca num
rio.
Igapó - Trecho de floresta inundado.
Bruno Brum Paiva
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