sábado, 2 de fevereiro de 2013

Casa Nova




   Iemanjá levou nosso Caesalpinia echinata para a beira do rio enquanto pescadores conduziam a imagem pelas águas do Guaíba paralelamente à multidão que transitava com vagar e fé pela Castelo Branco até a Igreja de Navegantes. Sábado era festa da padroeira de Porto Alegre, momento singular onde múltiplas forças se convergem num ato de muita densidade humana.

  Dia especial para nosso Caesalpinia mudar de casa. Após ser ruminado pela burocracia e até rejeitado pelo Jardim Botânico e pela SEMA, sob o dogma arboreofóbico de que planta não guasca não habita fecundas praças de nossos pampeanos matagais, o pau-brasil já quase árvore que no Mosteiro reinava soberbo, finalmente encontra uma terra na beira do rio em dia de Iemanjá.

    Aceito com carinho e regado em sua chegada, Caesalpinia já foi apresentado aos ipês, tipuanas, maricás, jacarandás, quero-queros e pica-paus seus vizinhos. Poderá estufar o peito ramificado, ampliar a gema apical e encravar suas raízes até que a idade adulta o permita chegar aos vinte metros. Entroncar-se, florescer e oferecer a sombra fresca que tempera as conversas mateadas. É muito bom saber que Iemanjá levou o pau-brasil para a beira do rio, no Beira-Rio.


                                    Bruno Brum Paiva







3 comentários:

Gabriela disse...

Es así ... todo renace ... todo tiene su oportunidad, tiempo al tiempo

ÂNGELA HOFMANN disse...

Belo, Bruno. Muitos ventos sopŕem auspiciosamente sobre esta promissora árvore, como a beleza de vcs dois que a regaram. Carinho, Angela.

ÂNGELA HOFMANN disse...

Memórias de raízes não impedem os galhos.