
A ideia não é original e tampouco nova. Muitos fizeram isso a pé, a cavalo, de bicicleta e em carros apropriados para o combate na Estrada do Inferno. Eu, que conhecera essa estrada por dentro e na pele, queria mesmo era fazer o caminho pelo meio mais confortável que o asfalto nos legara. De Porto Alegre a Capivari do Sul, passando antes por Viamão e posteriormente por Palmares, Mostardas, Tavares, Bojuru, São José do Norte, Rio Grande e o contorno por Pelotas começando por Laranjal, São Lourenço, Arambaré e outras encostas da Lagoa dos Patos até descer pela ponte do Guaíba onde o rio é projetado a partir do oriente.
O trecho entre Tavares e São José do Norte é de uma beleza única, e o vazio demográfico deixa afinado o silêncio pelo olhar. É um preparo para o mergulho no pampa. Chegamos no Norte abaixo d'água - aliás, quando se diz, em Tavares, vamos para o norte na verdade se vai é para o sul rumo a São José do Norte, que fica ao norte de Rio Grande, ou seja, se vai para o sul dizendo 'vamos ao Norte'.
Quando entramos no restaurante Caramujo, na Praia do Mar Grosso, chamou minha atenção uma pintura do velho Zemeco na parede. Mergulhei nas tintas e na infância. A obra deste artista nortense é monumental, descritiva, intuitiva, tem cheiro, tem vida, tem sabor. E ele continua vivo, andando pelas ruas do Norte em busca das cores varridas de seu olhar, olhar que botava em tinta o que a fotografia acima registra em flash. O passeio poderia terminar aqui, mas precisávamos voltar à cidade para encontrar a fila da balsa para Rio Grande. O Marujo viajou ao lado do rebocador e espremido entre dezenas de carros. Pernoitamos em Rio Grande. A chuva engrossou na madrugada e não rala ficou até nossa chegada em Porto Alegre na tarde da carnavalesca terça. Mas no meio do caminho teve São Lourenço, que é um capítulo à parte.
Bruno Brum Paiva